domingo, 29 de setembro de 2013

Sábado
05/10
 
Clamor do Sexo
(Splendor in the Grass)
De Elia Kazan
 
 
 
Sala Redenção
 
15:30

Conheça os Palestrantes


Arthur Lima de Avila
 
 

possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003), mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006) e doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com bolsa do CNPq e cuja tese recebeu o Prêmio Capes 2011 em História. Atualmente, é Professor Adjunto no Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de História, com ênfase em História da América, Teoria da História, Historiografia e História dos Estados Unidos, atuando principalmente com os seguintes temas: historiografia norte-americana, imperialismo, história do Oeste norte-americano e dos Estados Unidos.

Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/1637276837748339


Rafael Belló Klein
 
 

Possui graduação em História - Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011). Atualmente é mestrando em História na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa Sociedade, Política e Relações Internacionais.

Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/7799976155967610

Texto - Em breve!

A Bela do Sábado de Tarde

Natalie Wood
(Natalia Nikolaevna Zakharenko)
 
Atriz estadunidense, iniciou carreira aos quatro anos de idade. Participou de diversas obras clássicas da história do cinema como Rastros de Ódio, Clamor do Sexo, Juventude Transviada e Amor Sublime Amor.
 




 
 

Trailer Clamor do Sexo


domingo, 22 de setembro de 2013

Sábado
 
28/09
 
Lolita
 
de Stanley Kubrick
 
 
 
Sala Redenção
15:30

Conheça os Palestrantes


 

Marcia Ivana de Lima e Silva
 
 

Cursou Licenciatura em Letras (Português e Alemão) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1986); Mestrado e Doutorado em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991 e 1996). É professora do Instituto de Letras da UFRGS. Pesquisa criação literária, com ênfase em Crítica Genética. Coordena o acervo de Guilhermino Cesar.

Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/8627082926847683

 

Rafael Hansen Quinsani
 
 

Possui graduação em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006) e graduação em Bacharelado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008). Mestre em História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2010). Atualmente é Doutorando em História na UFRGS. Tem experiência na área de História, com ênfase em Cinema-História, História Contemporânea e Teoria da História e Historiografia, atuando principalmente nos seguintes temas: Cinema-História; Guerra Civil Espanhola; Revolução Mexicana; Teoria e Metodologia da História; Historiografia; Ensino de História; Ditadura Civil-Militar Brasileira.

Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/8582953893345367

Texto - Em breve!


O mito da ninfeta: Fetiche ou Obsessão?
Rafael Levandovski
Graduando em História - UFRGS

O dicionário Michaelis define “ninfeta” como sendo: “Menina adolescente que desperta desejo sexual”. Contudo, essa definição não engloba uma parte bastante importante daquilo que é exposto na obra do escritor russo-americano Vladmir Nabokov: “Lolita (1955)”, que – sem dúvida – é o que mais influencia em todas as aplicações do termo na atualidade. O Dr. Humbert Humbert (H.H.) (protagonista da obra de Nabokov) escreve:

“Entre os limites de nove e catorze anos, virgens há que revelam a certos viajores enfeitiçados, bastante mais velhos do que elas, sua verdadeira natureza – que não é humana, mas nínfica (isto é, diabólica). A essas criaturas singulares, proponho dar o nome de ninfetas.”

Lolita é um romance que – desde seu lançamento – foi muito polêmico, pois trata do tema pedofilia com uma naturalidade que chega a ser perturbadora. Apesar da polêmica, o romance fez muito sucesso, e – hoje em dia – é considerado um clássico. 


 Nabokov assume a pessoa do francês Humbert Humbert, no momento em que ele espera ser julgado por um assassinato que cometeu. A trama do livro se desenvolve a partir do desejo que este tem em explicar o motivo para que cometesse tal crime. Para que ele possa atingir esse objetivo, ele precisa relembrar muitas das coisas que aconteceram consigo, sendo a maior parte delas relacionada às suas paixões e relacionamentos.

Atribui a “origem” de sua doença à sua primeira paixão (aos treze anos), uma menina chamada Annabel, que morre prematuramente, fazendo com que o pequeno Humbert sofresse um grande trauma. Assim, desenvolve uma atração muito grande por meninas com uma idade semelhante a que tinha seu amor antes de morrer. Cresce com uma série de distúrbios, que passam a ser mais perceptíveis (tanto para ele, quanto para o leitor) no momento em que descobre o adultério de sua primeira mulher. Não cede ao impulso de matá-la, mas o simples fato de ter cogitado já demonstrava seus problemas. A herança recebida de um tio estadunidense faz com que tenha de se transladar para o país, mais especificamente na cidade de Ramsdale.

Acaba por se instalar na casa da viúva Charlotte Haze (C.H.), mãe de Dolores Haze (A Lolita). A filha é o fator decisivo para que H.H fique na casa, pois ela muito se assemelha com Annabel, e – pela descrição do autor – é uma ninfeta diferente de todas as outras. É imediata a atração de Humbert pela menina, e este começa a tramar situações e mais situações para que consiga tirar algum proveito dela (anotando grande parte delas em um diário). A mãe e a menina não têm uma boa relação, e isso faz com que Lolita seja enviada para um acampamento de verão (deixando Humbert desolado). Todavia, Charlotte se declara para seu hóspede, e este acaba por se casar com ela - para que obtenha uma relação mais próxima a sua tão amada “ninfeta”. O casamento dura somente o tempo em que a menina se encontra no acampamento, pois C.H. morre atropelada, após ler o diário que Humbert mantinha em uma gaveta trancada.

A segunda parte do livro tem início logo após a morte de Charlotte Haze. Ou seja, o que proporcionou liberdade para que Humbert parta para a sua primeira viagem junto de Lolita. Durante todo o percurso H.H. desenvolve técnicas de chantagem para que a menina não conte para ninguém o que acontece entre os dois, e – também - para que ela continue o satisfazendo sexualmente com regularidade. Além de chantageá-la, frequentemente compra presentes para recompensá-la por bom comportamento. Humbert havia desenvolvido uma paixão compulsiva pela garota, na qual precisava “saber de cada passo” da menina, pois tinha que lidar - além do medo de que ela o abandonasse - com o fato de que a qualquer momento a menina poderia denunciá-lo à polícia.  Após um tempo, H.H. resolve eleger uma cidade para morar permanentemente. A cidade escolhida é Beardsley, devido – principalmente - ao fato de que lá havia uma escola só para garotas (o que o permitiria afastar a menina de possíveis ameaças masculinas).

A estratégia de H.H não tem muito sucesso, os dois cada vez brigam mais, e isso torna-se visível para as pessoas que os cercam. A briga mais importante para o entendimento da história é a que diz respeito ao desejo de Lolita de participar de uma peça de teatro da escola (dirigida por Clare Quilty), que tem como consequência a decisão de partirem mais uma vez em uma viagem pelo país. Todo o ciúme, já antes demonstrado por H.H., é agravado com o início dessa empreitada. Além das usuais chantagens, Lolita tem que conviver com uma constante paranoia de seu “companheiro”, que pensa estar sendo seguido por um carro conversível (o que posteriormente descobrimos fazer todo o sentido). Assim, trocam cada vez mais de motel. Em uma das diversas cidades pelas quais passam, Lolita fica muito doente. Humbert leva-a para o hospital, mas no dia em que vai buscá-la para ir embora, descobre que ela fugira com outra pessoa.

Uma busca (inclusive contratando um detetive) é empreendida pelo doutor, todavia, sem sucesso algum. A “perda” de sua amada não faz com que seu desejo pedófilo cesse, nem mesmo quando acaba por casar-se (outra vez) com uma “não-ninfeta”. Contudo, o seu desejo de encontrar Lolita não some, e a sua nova mulher tem conhecimento disso. O intuito de Humbert é encontrá-la e matar o homem que a tirou dele. Depois de quatro anos ele acaba fazendo contato com Lolita, e descobrindo que ela se encontrava casada e grávida. Entretanto, o marido de sua amada não era o mesmo que a havia “roubado” dele. Depois de muita insistência, consegue uma confissão de Lolita, que o revela que o homem responsável por sua fuga era Clare Quilty (o diretor da peça!). Assim, o romance acaba com o assassinato de Clare Quilty, e a prisão (sem resistência) do Doutor Humbert Humbert, que – como é informado no começo do livro – morre de uma trombose coronária logo após acabar o manuscrito da obra.

O autor enfrentou sérias dificuldades para publicar o livro e - quando finalmente teve essa oportunidade - foi extremamente criticado por tratar com tanta “naturalidade” um personagem que vai totalmente contra o “cidadão americano ideal”. Apesar das críticas, fez muito sucesso e teve seu livro adaptado ao cinema, primeiramente por Stanley Kubrick (1962), e – posteriormente – por Adrian Lyne (1997).  

Desde a publicação do romance “Lolita” é possível elencar diversos filmes que fizeram menção (ou demonstraram alguma proximidade) ao conceito de ninfeta. Procurei dividi-los em duas categorias, sendo a primeira de filmes que tratam do tema juntamente com o tema pedofilia, e a segunda de filmes que somente usam o conceito (sem fazer uso do que é proposto do Nabokov).

Na primeira categoria, é possível elencar várias produções, mas acredito que dentre todas essas, três merecem um destaque em especial: As duas versões de Lolita (citadas acima) e Pretty Baby (1978).
 
A produção de Kubrick é precursora. Contudo – na minha opinião – Lyne consegue captar de uma forma melhor (por ter um roteiro mais fiel aos diálogos do livro) aquilo que é proposto por Nabokov em seu romance, o que é no mínimo controverso, pois o autor teve grande participação na confecção do roteiro de Kubrick.

Este opta por revelar quem é assassinado por Humbert (Clare Quilty) desde o início, sob o pretexto de prender a espectador ao filme. Todavia, me parece que essa manobra faz com que a constante dúvida que assola o leitor durante todo o desenrolar do romance de Nabokov simplesmente desapareça, perdendo-se um bom componente da composição total da narrativa (que na versão de Lyne permanece).

O livro de Nabokov também tem a característica de não fazer uso de “palavras obscenas” em nenhuma situação, e frequentemente se utiliza de eufemismos para descrever as cenas sexuais. Assim, Kubrick opta por não mostrar “explicitamente” as relações carnais de Lolita e H.H, enquanto Lyne prefere uma abordagem mais direta, deixando claro o relacionamento “amoroso” entre os dois.  

A polêmica causada pelo fato de uma menor de idade (tanto em um quanto no outro) interpretar Lolita é – definitivamente – um dos pontos que aproxima as duas produções. Além disso, a exemplo que é feito por Nabokov, ambos procuram enfatizar os transtornos mentais pelos quais Humbert Humbert passa devido ao seu interesse por “ninfetas” (um dos elementos de discussão acerca do romance).

No entanto, quando se trata de polêmica, o filme Pretty Baby (dirigido por Louis Malle) supera os outros dois sem dificuldade. Apesar de não mencionar “ninfeta” nenhuma vez durante todo o seu roteiro, trata diretamente do modo como uma menor de idade é abusada. O filme mostra a visão de mundo Violet (uma criança de doze anos). O que gera a trama é o fato de ela ser moradora de um bordel, e não ter praticamente nenhum contato social com pessoas de fora deste meio. Ela é iniciada na prostituição com a idade de 12 anos, e pelos maus tratos que sofre no bordel acaba resolvendo fugir. Sua fuga é feita através de um dos clientes da “casa”, um fotógrafo (Ernest), que tinha o hábito de visita-las simplesmente para tirar fotos. Os dois acabam se casando (tendo a menina doze anos), mas no final do filme ela é “tirada” de seu marido por sua mãe e padrasto.

A “ninfeta” que aparece neste filme tem características muito diferentes daquelas expostas por Nabokov em Lolita. Diferente da personagem principal do livro, Violet é muito ingênua, e isso é mostrado constantemente. Ela não tem noção de certo e errado quando se trata do sexo, pois isso foi uma questão muito natural durante a criação dela. Assim como as outras crianças, Violet sofre uma influência daquilo que está em sua volta, e – por esse motivo – repete grande parte do que vê. Louis Malle propôs tratar o tema com muita realidade e inclui cenas de nudez (em sua versão original) da protagonista, fazendo com que fosse censurado em diversos países.         

Dentro da segunda categoria de filmes, se incluem as obras que remetem às ninfetas e ao nome Lolita, mas que não são definidas e nem criticadas por fazerem alusão à pedofilia.

Esta parte do trabalho diz respeito àquilo que advém da indústria pornográfica. A prática de tentar fazer com que mulheres fiquem com uma aparência muito mais nova, fazendo uso de maquiagem, combinada com roupas muito pequenas e - se possível - com alguém que tenha uma visual naturalmente mais jovem, não é recente. Bastou uma pequena pesquisa (com fins essencialmente acadêmicos) em um famoso site fornecedor deste tipo de material, para que pudesse perceber que o termo Lolita é usado frequentemente neste meio, mas – obviamente – sem uma verossimilhança com aquilo que é descrito por Nabokov, visto que, o entretenimento proporcionado pela pornografia não tem uma ligação direta com o romance, apesar de ambos fazerem uso de algo presente no imaginário (consciente e inconsciente) de alguns indivíduos.

Vê-se que o exemplo mais recente e mais famoso de um caso destes é Sasha Grey (Marina Ann Hantzis – 14/03/1988). Desde seu início na pornografia (2006), aos 18 anos, tem seu nome comparado ao da musa do Dr. H.H. Já li em algum lugar – inclusive – que ela transcende Lolita, pois ela não recusou gravar os “filmes bizarros com Clare Quilty e seus amigos”. Contudo, a carreira de atriz pornô desta - infelizmente - acabou precocemente em 2011, e agora não se pode mais esperar que novos “materiais de estudo” sobre o nosso tema apareçam com ela como protagonista (somente, talvez -porém sem o glamour anterior - nas produções literárias de sua nova carreira de escritora).
 
Devo lembrar, ainda, que os filmes pornô são muito mais “consumidos” que os longa-metragem. Portanto, têm uma influência relativamente mais significativa na formação do conceito de ninfeta em nossa sociedade. O fetiche por mulheres mais novas é deveras comum, e a indústria pornográfica se aproveita disso (geralmente) sem considerar as possíveis consequências de tal ação.

O consumidor de pornografia, na maioria das vezes, não tem noção de toda a “carga” que – a partir do lançamento do livro de Nabokov – é implícita ao nome Lolita, ou mesmo ao conceito de ninfeta. Não obtive acesso a estatísticas sobre os crimes de pedofilia, porém é do conhecimento geral o fato de que – assim como o personagem Humbert Humbert exemplifica – os pedófilos alegam (e o mesmo acontece com estupradores) que a culpa de cometerem tal crime é da própria vítima, pois ela quem os atrai.  

Em suma, é possível perceber o quão polêmico todo o material que trata de uma temática relacionada às “ninfetas” (sendo ele coerente com o que é escrito por Nabokov ou não) acaba por – naturalmente – sofrer uma crítica bastante intensa por parte da sociedade em geral. É daí que surge a discussão sobre a legitimidade, ou não, de tudo o que tem alusão ao tema, pois supõe-se que a exposição de tal fator seja um incentivo à pratica. Além do incentivo, no caso da indústria pornográfica, aparece a manutenção de conteúdo que satisfaz (e faz possível) um fetiche masculino, que – teoricamente – vai contra o que é socialmente aceito. Todavia, é evidente que os crimes de pedofilia são uma realidade e – querendo ou não – a exposição do tema acaba por gerar uma reflexão associada – sobretudo – a uma conscientização sobre o assunto.

Portanto, tanto o romance de Nabokov, quanto os filmes de Kubrick, Lyne e Malle - dentro de suas possibilidades - contribuem para que esse terrível problema seja combatido. Por fim, vejo que o estímulo de um fetiche – e da sexualidade em si (sem exagero, e com consciência das consequências) não é danoso, e – inclusive - pode ser considerado saudável. A sexualidade ainda é tabu, algo totalmente inaceitável, pois ela é essencial para a compreensão das ações humanas, e – sem ela – a vida, sem sombra de dúvida, tende a ter muito menos sentido. 

A Bela do Sábado de Tarde

Sue Lyon
 
Atriz estadunidense, iniciou a carreira em programas de televisão até ser descoberta Stanley Kubrick.
 





 

Trailer Lolita


domingo, 15 de setembro de 2013

Sábado, dia 21/09
 
Kama Sutra - Um conto de Amor
 
De Mira Nair
 
 
 
Sala Redenção
15:30
 
 
 

Conheça os Palestrantes


Natalia Pietra Méndez

Doutora em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008) e Mestre em História(2004) pela mesma instituição. É Professora Adjunta I do Departamento de História da UFRGS. Foi Professora Adjunta I da Universidade de Caxias do Sul entre 2006 e 2012. Investiga temas relacionados a gênero, estudos feministas e história das mulheres.

Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/7580869559349158


Rafael Farias de Menezes

Tem experiência na área de História, com ênfase no período medieval na região norte da África, em especial nos espaços de religiosidade muçulmana. Paralelamente, possui larga experiência em sala de aula, interessando-se sobremaneira pelo tema História e Educação, desenvolvendo, por isso, livros didáticos e softwares na área

Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/2457313892470263

Bollywood

Bollywood, “Item girls” e feminismo: o sexo que vende
Augusta Silveira
Graduanda em História na UFRGS
            A indústria cinematográfica com sede em Mumbai (Bombay), popularmente chamada de Bollywood, produz filmes em uma das diversas línguas oficiais da Índia, o Hindi. Naturalmente, o cinema Hindi é somente uma parte dos cerca de mil filmes produzidos por ano no país, embora seja a maior e mais popular vertente do cinema indiano. O fenômeno Bollywood atingiu o ocidente tardiamente, a partir dos anos 2000, e embora alguém possa afirmar que foram os valores ocidentais que estimularam a crítica feminista ao cinema Hindi, boa parte da reflexão sobre gênero vem das próprias ativistas indianas.
            Uma característica marcante dos filmes de Bollywood é a de procurar atingir todo o tipo de público, incluindo no cinema Hindi elementos que maximizem os lucros de bilheteria. Melodramas focados em relações familiares, triângulos amorosos e paixões proibidas fazem parte do plot das películas com apelo às massas indianas. A música e a dança, porém, podem muitas vezes determinar o sucesso ou um fracasso de um filme. A maioria das produções de Bollywood é do gênero musical, portanto, a trilha sonora (normalmente lançada antes do filme, para atrair o público) e os números de dança são elementos importantes para aumentar a bilheteria de filmes que às vezes não contam com um roteiro atraente.
            Enquanto boa parte dos números musicais é inserida dentro da própria história, cantada pelos protagonistas com algum propósito de continuidade, outros usam o antigo recurso dos “Item numbers”. A fórmula é simples: uma mulher jovem e atraente, a “Item girl”, dança e dubla uma das músicas da película, normalmente desconectada da história central, para fins de marketing (ou assim dizem os produtores).
            A tradição das Item girls em Bollywood se inicia a partir dos anos quarenta com Vyjayanthimala e Padmini, atrizes conhecidas por seus números de dança semi-clássica nos filmes da época. Mais tarde, a figura da “vamp”, introduzida por Cuckoo e imortalizada por sua protégé Helen, foi predominante até o final dos anos setenta. A vamp era, normalmente, uma dançarina de cabaret ou uma cortesã, cantava abertamente sobre sexualidade, usava roupas reveladoras, bebia e fumava em seus números; tudo que faltava à heroína. A partir dos anos oitenta, uma geração de atrizes passa a incorporar os Item numbers em seu repertório, extinguindo os padrões moral e socialmente aceitos para a heroína, dando margem para coreografias que exploravam a sensualidade da protagonista.
 
            A evolução do Item number ao longo das décadas fez com que fossem investidos cada vez mais tempo e capital na produção desse número. Atualmente, um Item number costuma trazer uma coreografia elaborada, um cenário espetacular, um extenso contingente de dançarinos e diversas trocas de figurino, tudo em busca de um bom “repeat value” para a película, ou seja, que exige ser vista mais de uma vez.
            Analisando as atrizes do cinema Hindi a partir dos anos 2000, é quase impossível encontrar alguma que não tenha tido um Item number em sua carreira. Aishwarya Rai, Kareena Kapoor, Katrina Kaif, entre outras atrizes menores, todas cederam à publicidade e popularidade que traz uma performance especial em um filme. O Item number é visto muitas vezes como um atalho para o sucesso e o estrelato em Bollywood, um recurso explorado por jovens atrizes que buscam um papel mais proeminente em outras películas e uma maior exposição na mídia.


 
 
            A crítica feminista aos Item numbers passa, naturalmente, pela objetificação do corpo feminino para fins comerciais. As Item girls, qualquer seja o lugar de sua performance, costumam dançar para os olhares masculinos presentes na cena, transformando um suposto numero musical em uma demonstração de sua ousadia (sua personalidade tradicionalmente se opõe à da heroína).
            Em 2005, o debate tornou-se mais direcionado após o banimento dos bares de dança em Mumbai. Apesar do grupo de ativistas contrários, a medida foi aprovada com unanimidade, sob o pretexto de um “policiamento moral” do “entretenimento” provido pelas dançarinas. Os números apresentados por essas dançarinas, a maioria mulheres jovens de baixa renda, são imitações dos famosos Item numbers de Bollywood.
A questão proposta pelos opositores da medida é que enquanto a “vulgaridade” das dançarinas de bares era o motivo do fechamento do estabelecimento, os Item numbers imitados por elas estavam nas salas de cinema de toda a Índia. A conclusão atingida por esses ativistas coloca uma pergunta em jogo: se as performances nos bares e no cinema Hindi vendem a mesma imagem da mulher como objeto sexual de admiração, por que se questiona apenas a validade da performance da periferia, de bares pobres? Pode-se dizer, portanto, que há uma glamourização da mulher como objeto sexual da admiração masculina no cinema Hindi.
            Outras críticas tratam do Item number como uma incitação à violência contra a mulher, visto que um extenso número de performances se resume a um homem que insiste em provocar a Item girl até que, no fim, ela cede às suas investidas. Esse tipo de Item number faz parte do mito da mulher que “finge ser difícil” apenas para provocar seu par masculino. A idéia transmitida por esse tipo de música é que sempre um “não” de uma mulher pode significar um “talvez”, conseguido através de muita insistência e, porque não, abuso.
            Ainda existem outros tipos de crítica, normalmente relacionados à como as mulheres foram e ainda são retratadas no cinema Hindi. Embora haja uma evolução nesse sentido, mostrando cada vez mais mulheres indianas fora do âmbito privado, muitos filmes ainda trazem o aspecto da submissão e idolatria ao marido como características valiosas da perfeita esposa. Bollywood, como uma indústria centrada nos protagonistas masculinos, ainda coloca suas personagens femininas à margem da tradição indiana, criando o estereótipo irreal da mulher que, embora possa usar roupas ocidentais, precisa provar sua “indianidade” para ser digna de valor.
            Por fim, embora a discussão esteja se popularizando, a crítica feminista às produções Bollywoodianas tem muito a crescer. Talvez, a saída seja relacionar a cultura criada pelo cinema Hindi às situações precárias que se encontram as mulheres indianas em seu cotidiano. Qual a relação direta entre os estupros coletivos na Índia e os Item numbers? Talvez nenhuma. Porém, analisar como a objetificação da mulher e a criação de uma tradição cinematográfica que insiste em retratá-las como um prêmio a ser conquistado ou um produto a ser vendido influencia a criação e perpetuação de práticas sociais pode oferecer um ponto de partida para uma discussão maior sobre gênero.

A Bela do Sábado de Tarde

A Bela do Sábado de Tarde
 
Indira Varma
Atriz inglesa, filha de pai indiano e mãe suíça atuou em trabalhos no teatro, cinema e televisão.
 







 
 

Trailer Kama Sutra


domingo, 1 de setembro de 2013

Dia 14/09 Romeu e Julieta

Sábado Dia 14/09
 
Sala Redenção
 
15:30
 
 
Romeu & Julieta
 
De Franco Zeffirelli, 1968


 
 

Conheça as Palestrantes

Joana Bosak de Figueiredo
 
Professora Adjunta de Teorias, Crítica e Historiografia da Arte, no Bacharelado em História da Arte, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Licenciada e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996-97), mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000) e doutora em Estudos de Literatura - Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006) com estágio doutoral na Universitat de Barcelona. Pós-doutorado junto ao Programa de Pós-graduação em História com tema transversal em história do Rio da Prata, literatura e indumentária tradicional (2011-2013). Docente convidada da Universidad de Buenos Aires, UNISINOS e SENAC em cursos de pós-graduação em Moda com as temáticas de Moda e Literatura, Cultura e Teoria de Moda e Moda e Cinema. Consultora pedagógica e palestrante no Fronteiras do Pensamento, com ênfase nas temáticas de história, literatura e arte. Atualmente desenvolve projeto de pesquisa em Arte e Moda, tendo como foco a produção de "vestidos de artista" na arte brasileira contemporânea
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/2938354734194794
 
Carla Brandalise
 
Possui graduação em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1986), graduação em Bacharelado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1987), mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992) e doutorado em História Política pelo Institut d'Études Politiques de Paris - Cycle Supérieur d'Histoire du 20ème Siècle (2003). Atualmente é professora associada de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; professora permanente do Programa de Pós-Graduação em História-UFRGS. Tem experiência na área de História Política, com ênfase em política contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: Nações e Nacionalismos; Regimes, sistemas e partidos políticos; Fluxos migratórias contemporâneas; História do Tempo Presente.
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/3380240439932303

A Tragédia Romântica de Romeu e Julieta


A Tragédia Romântica de Romeu e Julieta:
de Shakespeare a Chapolin.

Rafael Belló Klein
Mestrando em História na PUCRS 

Sempre que nos detivermos um momento a pensar e elencar os grandes pilares da dramaturgia, e mesmo da literatura ocidental, a obra de William Shakespeare (1564-1616) salta aos olhos como uma das mais significativas. O “Bardo de Avon”, como foi alcunhado pelo seu local de nascimento, Stratford-upon-Avon, é autor de dezenas de peças que entraram para o cânone da literatura mundial, tendo sido inúmeras vezes adaptadas tanto para o teatro, quanto para o cinema e a televisão. Embora tenha se dedicado também à poesia, foi mesmo enquanto dramaturgo que Shakespeare ganhou maior reconhecimento, por suas comédias, dentre as quais se destacam, por exemplo, A Megera Domada, Muito Barulho por Nada e Sonho de uma Noite de Verão, que versam sobre temas como o casamento, as relações amorosas e as disputas entre os sexos; e, principalmente, por suas tragédias, que tratam de temáticas como a inveja, o ciúme, a ambição e a traição, como Rei Lear, Otelo, o Mouro de Veneza, além das obras-primas Macbeth e Hamlet.

            Entre suas tragédias, ainda, figura aquela que se tornou a grande história de amor ocidental, o arquétipo por excelência do amor romântico: Romeu e Julieta. Escrita entre 1591 e 1595, a peça narra o trágico desfecho do amor entre Romeu, da casa dos Montéquio, por Julieta, da família rival dos Capuleto. A história é ambientada na cidade italiana de Verona, e tem como pano de fundo o sangrento conflito entre as duas famílias, representado logo na sua primeira cena. Romeu, após entrar furtivamente em um baile da casa inimiga, na esperança de encontrar Rosalina, sobrinha de Capuleto, acaba encontrando e apaixonando-se por Julieta, filha do patriarca rival. Após o baile, Romeu consegue entrar, novamente despercebido, no jardim dos Capuleto e se coloca diante da varanda de Julieta, de onde ouve que seu amor é correspondido por esta, revelando a seguir sua presença. Naquela noite, ambos decidem se casar apesar do ódio reinante entre suas famílias, intento realizado com a ajuda de Frei Lourenço, franciscano amigo de Romeu, que, secretamente, os une em matrimônio no dia seguinte.


 
            No entanto, a tragédia não demora a se abater sobre a história. Teobaldo, da casa dos Capuleto, ao saber que Romeu havia entrado de penetra no baile de sua família, desafia este para um duelo, que acaba com a morte de Mercúcio, parente do Príncipe de Verona e amigo de Romeu e que havia tentado intervir, e, na seqüência, do próprio Teobaldo, nas mãos de Romeu. O Príncipe, então, tendo perdido um familiar na disputa interminável entre as duas famílias, sentencia Romeu ao exílio.

            Entrementes, Julieta é prometida em casamento a Páris, também parente do Príncipe de Verona. Desesperada, a garota pede ajuda a Frei Lourenço, que lhe fornece uma droga que a deixaria em estado de morte aparente por 24 horas, para evitar que se casesse contra sua vontade, e promete enviar um mensageiro a Romeu para informá-lo do plano, de modo a reunir o casal assim que Julieta acordasse. Efetivamente, na véspera de seu casamento, a moça toma a droga e, sendo dada como morta, é depositada na cripta da família. O suposto mensageiro, porém, não chega até Romeu, que, desolado, compra um veneno mortal e dirige-se à cripta onde jazia sua amada. No entanto, ao chegar ao local, Romeu depara-se com Páris velando sua falecida noiva. Os dois jovens batem-se em duelo, o qual termina com a morte de Páris. Mesmo vencendo, Romeu bebe o veneno que trouxe consigo, por acreditar que Julieta estava de fato morta. A moça, no entanto, acorda logo a seguir e, vendo Romeu morto a seu lado, suicida-se com a adaga de seu amado.

            Ao descobrirem os corpos na cripta, e tendo ouvido o relato do amor secreto dos dois jovens por parte de Frei Lourenço, as famílias de Montéquio e Capuleto acabam se reconciliando ao final da trágica história.
 
                 Poucas peças receberam tantas representações, alusões e adaptações quanto a tragédia shakespeariana de Romeu e Julieta. Abundam obras de arte que ilustram cenas clássicas da história, como a do encontro na varanda e o drama final na cripta. Também na música há grande número de obras que a ela fazem referência, desde um poema sinfônico de Tchaikovsky, cuja primeira composição data de 1869, até uma canção de 1981 da banda de rock Dire Straits.

            Mas é no cinema que podemos encontrar o maior número de versões ou referências à história. Tanto que seria praticamente impossível fazermos um apanhado de todas as obras cinematográficas que a tematizam. Vejamos, no entanto, algumas das mais significativas.

            Houve várias filmagens, desde o início do século XX, que buscaram interpretar fielmente a tragédia de Romeu e Julieta. No entanto, talvez a primeira grande adaptação para o cinema da obra shakespeariana tenha sido o filme homônimo de 1936, dirigido por George Cukor a partir do roteiro de Talbot Jennings e tendo Leslie Howard e Norma Shearer interpretando o malfadado casal de Verona. Apesar de ter recebido críticas devido à idade dos atores – cerca de 30 anos mais velhos do que os personagens que interpretavam – e de dividir os especialistas entre os que o aclamaram e aqueles que o consideraram demasiado elaborado, sendo contrários à filmagem de obras de Shakespeare, o filme recebeu quatro indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz para Norma Shearer, Melhor Ator Coadjuvante para Basil Rathbone pelo papel de Teobaldo, e Melhor Direção de Arte. Mesmo não levando nenhum dos prêmios, a película foi considerada durante muito tempo como um dos clássicos da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), estúdio que a produziu.
 




            É digna de nota também, a produção de Romeo and Juliet de 1954, quase duas décadas após a versão de Cukor. Tendo roteiro adaptado e direção do italiano Renato Castellani, a película mesclou a participação de atores profissionais experientes, como o Romeu Laurence Harvey, e inexperientes, como a Julieta Susan Shentall, uma estudante escolhida por sua beleza, descoberta por Castellani em um pub de Londres. Reduzindo drasticamente a participação dos personagens secundários e intercalando cenas destinadas a representar características da época, como o catolicismo e o sistema de classes na Itália renascentista, o filme foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1954, apesar do baixo sucesso comercial.



            A mais aclamada versão do trágico romance shakespeariano talvez seja a dirigida pelo também italiano Franco Zefirelli, a partir do seu roteiro em colaboração com Franco Brusati e Masolino D'Amico, de 1968. O filme conta com a narração de Laurence Olivier e foi estrelado pelos jovens Leonard Whiting e Olivia Hussey. Pela primeira vez na história cinematográfica, o conto de Romeu e Julieta era interpretado por atores muito próximos à idade que os personagens de Shakespeare apresentam no drama, tendo Whiting e Hussey, respectivamente, 18 e 17 anos na época do seu lançamento. Grande sucesso de crítica e de bilheteria, o filme venceu dois Oscars, o de Melhor Fotografia e de Melhor Figurino, tendo sido indicado também para os prêmios de Melhor Filme e de Melhor Diretor para Zefirelli.



            Há também aqueles filmes que trazem alterações mais drásticas em relação ao escrito original. Entre estes, é necessário citar o filme Romeo + Juliet, de 1996. Dirigido por Baz Luhrmann e trazendo Leonardo DiCaprio e Claire Danes como os protagonistas, o filme apresenta uma roupagem pós-moderna, sensual, e atrativa para o público jovem e adolescente. As alterações do filme de Luhrmann não se referem tanto ao desenrolar dos fatos conforme a peça de Shakespeare. Estas são relativamente pequenas. Sua grande inovação é trazer a narrativa para os tempos atuais, atualizando e modernizando a disputa entre os Montéquio e os Capuleto: agora dois impérios empresariais em conflito, tendo como pano de fundo a fictícia cidade de Verona Beach, e lançando mão de armas de fogo em vez de espadas.



            Outras versões, com grandes alterações no roteiro, ambiente e personagens merecem ainda ser lembradas, pelo seu sucesso e originalidade. O filme Romanoff and Juliet, de 1961, é um bom exemplo. Dirigido, escrito e estrelado pelo britânico Peter Ustinov, a película narra a história de um General de um país centro-europeu (Ustinov) que manobra para que Igor Romanoff (John Gavin), filho do embaixador da União Soviética, e Juliet Moulsworth (Sandra Dee), filha do embaixador americano, se apaixonem. O filme, assim, ainda que desconhecido do grande público, revela-se uma crítica bem-humorada à Guerra Fria e aos conflitos diplomáticos em geral, sem, no entanto, perder o romantismo do conto de Romeu e Julieta.


            É indispensável que se mencione também o bem mais conhecido, lucrativo e premiado West Side Story. O filme, de 1961, é um musical baseado em uma peça da Broadway de 1957, que por sua vez é uma adaptação da tragédia shakespeariana. Dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, com roteiro de Ernest Lehman, e estrelando Natalie Wood e Richard Beymer, a película se passa em Nova York, onde as famílias rivais dos Capuleto e dos Montéquio são transformadas em gangues, uma de brancos americanos, os “Jets”, e outra de porto-riquenhos, os “Sharks”, que disputam entre si o controle das ruas. O conflito se intensifica quando Tony Wyzek (Beymer), o melhor amigo do líder dos “Jets”, Riff Lorton (Russ Tamblyn), e Maria Nuñez (Wood), irmã mais nova de Bernardo Nuñez (George Chakiris), líder dos “Sharks”, se apaixonam em uma festa. Após uma série de eventos, entre os quais se dá a morte dos chefes das duas gangues – Riff morto por Bernardo e este por Tony –, chega-se ao clímax da história. Ao receber a errada informação de que sua amada Maria havia sido morta por Chino (Jose DeVega), um membro dos “Sharks”, Tony impulsivamente vai ao encontro do suposto assassino. No entanto, ao ver Maria viva, Tony corre em direção a ela, sendo alvejado por Chino e morrendo. Maria, em choque, ameaça matar os membros dos “Sharks” que puder e suicidar-se ao fim, porém, acaba não tendo forças e cai no choro. O filme se encerra com um cortejo funerário composto por ambas as gangues carregando o corpo de Tony e com a prisão de Chino.

O musical foi vencedor de nada menos que 10 Oscars – Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (George Chakiris), Melhor Atriz Coadjuvante (Rita Moreno), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição, Melhor Mixagem de Som e Melhor Trilha Sonora –, sendo ainda indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.



            Outro filme que enfatiza as tensões raciais no lugar da disputa familiar shakespeariana é Romeo Must Die, do ano 2000. O longa-metragem de ação, dirigido por Andrzej Bartkowiak, é protagonizado pela estrela dos filmes de kung-fu Jet Li e pela cantora de hip-hop Aaliyah Haughton. Na trama, Han Sing (Jet Li) é um ex-policial que foge da cadeia em Hong Kong para investigar a morte de seu irmão em Oakland. Chegando na Costa Oeste dos Estados Unidos, ele se depara com o conflito entre as organizações criminosas da máfia chinesa e afro-americana. Ao longo da história, que envolve negociatas milionárias entre os dois lados para adquirir para a cidade uma franquia da NFL, Liga de futebol americano profissional, Han apaixona-se por Trish O’Day (Aaliyah), filha do chefão da gangue afro-americana. Ao final, entretanto, ao contrário da tragédia de Romeu e Julieta e da maioria de suas adaptações, os protagonistas Trish e Han não apenas desmancham o esquema entre as duas facções, como sobrevivem e ficam juntos.


            O final feliz aparece também em outras versões. Na animação infantil Gnomeo and Juliet, a história se desenvolve em torno dos jardins de dois vizinhos que se odeiam, o Sr. Capulet e a Sra. Montague. Cada um possui seu jardim povoado com gnomos, os do primeiro com gorro vermelho e os da segunda com gorro azul. Quando seus donos se afastam, os pequenos seres ganham vida e refletem a sua inimizade. A competição entre os dois clãs se dá por meio de corridas em cortadores de grama, em uma das quais Gnomeo (voz de James McAvoy) dos azuis perde para Tybalt (Jason Statham) dos vermelhos, por meio de uma trapaça. Esgueirando-se para o jardim vizinho à noite, na tentativa de se vingar, Gnomeo conhece Juliet (Emily Blunt), filha do chefe dos rivais vermelhos, e ambos se apaixonam. Quando estoura uma guerra aberta entre os dois lados e um poderoso cortador de grama desgovernado parece ter matado o casal apaixonado, a tragédia faz com que Lord Redbrick (Michael Caine) e Lady Bluebury (Maggie Smith), pais de Juliet e Gnomeo e líderes de suas cores, decidam acabar com a briga entre os jardins. Para coroar o desfecho alegre, Gnomeo e Juliet surgem vivos das ruínas do cortador de grama e se casam, unindo de vez os dois lados.


            De fato, também nas histórias infantis se popularizou a história de Romeu e Julieta, seja em filmes ou animações, no cinema ou na televisão, em desenhos animados ou seriados. O público brasileiro certamente se lembrará da célebre versão do seriado de comédia mexicano Chapolin. O programa de Roberto Gómez Bolaños apresentou, na sua quarta temporada, produzida em 1975, em dois episódios de cerca de 20 minutos, intitulados “A Romântica História de Juleu e Romieta”. Nesta versão, que faz um trocadilho com os nomes dos amantes de Verona, Juleu Montesco (Carlos Villagrán) torna-se namorado de Romieta Capuleto (Florinda Meza) sem se dar conta da inimizade mortal entre suas famílias. Ao ficar sabendo do namoro, o pai de Romieta, sr. Capuleto (Ramón Valdés), proíbe os dois de continuar se vendo. Neste momento, Juleu clama por ajuda, sendo acudido pelo herói trapalhão Chapolin Colorado (Bolaños), dando início a uma série de confusões, incluindo uma divertida serenata com a ajuda de um vizinho (Rubén Aguirre). No clímax da história, Romieta, a conselho do vizinho, finge estar morta para que seu pai esqueça a briga entre as famílias e lhe permita casar com Juleu. Porém, num duelo entre Chapolin e sua marreta biônica contra o Sr. Capuleto e seu penico, Juleu é atingido e cai supostamente morto ao chão. Romieta então revela estar viva e cai no choro, fazendo com que Capuleto se arrependa e lhe dê permissão para casar com quem quiser, momento em que Juleu levanta, revelando também estar vivo. E nos dizeres de Chapolin: “E foram muito felizes, casaram-se, tiveram muitos filhos, respiraram poluição, pagaram impostos. Bem, Chapolin Colorado, este conto está acabado”.


            Como vimos, então, seja por interpretações que buscam ater-se o mais fielmente possível ao texto shakespeariano, seja por adaptações que alteram drasticamente o local, os personagens e mesmo o desfecho da história, seja em películas de drama, ação ou comédia, proliferam versões da famosa história do amor proibido entre dois jovens, tragicamente entravado pelo ódio entre suas famílias. De fato, tratando de um tema tão universal como o amor, e o amor obstaculizado por ódios e ressentimentos mundanos, por barreiras sociais, a tragédia de Romeu e Julieta tornou-se um clássico, de alta pregnância no senso comum, no arcabouço folclórico ocidental, na história da literatura mundial e na produção de entretenimento cinematográfico e televisivo.